*Notas Biográficas
Mauricio dos Santos**
Anaxsuell Fernando da Silva***
Hilária Batista de Almeida ficou conhecida como Tia Ciata e nasceu em Santo Amaro, na Bahia, em 1854. Filha de Oxum, divindade que reina sobre as águas doces, aos 22 anos mudou-se para o Rio de Janeiro. Tia Ciata foi mãe carnal de quinze filhos e mãe de santo de muitos outros. Era doceira e vendia seus quitutes em um tabuleiro vestida com a indumentária tradicional de baiana, com saia, pano de cabeça e pano da costa. Numa época em que a libertação dos escravizados ainda era recente e que as religiões afro-brasileiras e a capoeira eram indesejadas e malquistas, Tia Ciata acolhia em sua casa – na “Pequena África”, como era conhecido seu bairro no Rio de Janeiro – africanos e seus descendentes e, da mesma forma, imigrantes europeus paupérrimos recém-chegados no Brasil. Em 1916, os tambores afro-brasileiros juntaram-se aos violões italianos e aos cavaquinhos portugueses na casa de Tia Ciata para a produção de Pelo Telefone, considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil, de autoria de Donga e Mauro Almeida. Entre 1920 e 1930 era significativo que as escolas de samba passassem pela Praça Onze e pela casa de Tia Ciata para homenageá-la. A famosa ala das Baianas nas Escolas de Samba são uma referência à Tia Ciata e a outras senhoras consideradas mães do samba (SIMAS, 2018).
*Originalmente publicado pela Revista Calundu, disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/revistacalundu/article/view/34579/28492
** Universidade Federal da Integração Latino-Americana
***Universidade Federal da Integração Latino-Americana
Imagem: Autoria desconhecida.
Referências
A CIDADE DAS MULHERES. Direção: Lazaro Faria. Salvador: Casa de Cinema da Bahia, 2005.
ADOLFO, Sergio Paulo. Tata Kisaba Kiundundulu. Maria Genoveva do Bonfim: O Nascimento da Nação Congo/Angola no Brasil. Ombala Tumbansi [Online]. Itapecerica da Serra: Nzo Tumbansi, 2009. Disponível em: <http://inzotumbansi.org/home/maria-genoveva-do-bonfim-o-nascimento-da-nacao-congoangola-no-brasil/>.
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen, 2019.
BALLESTRIN, Luciana. “Para transcender a colonialidade”. Revista IHU [on-line], vol.431, 2013.
CASTILLO, Lisa Earl. “O terreiro do Alaketu e seus fundadores: história e genealogia familiar”. Afro-Ásia, n.43, 2011.
COSSARD, Gisele Omindarewá. Awó: o mistério dos orixás. Rio de Janeiro: Pallas, 2008.
COSTA, Beatriz Moreira. Caroço de dendê: a sabedoria dos terreiros: como ialorixás e babalorixás passam conhecimentos a seus filhos. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.
COSTA, Beatriz Moreira. Histórias que minha avó contava. Rio de Janeiro: Terceira Margem, 2004.
DION, Michel. Omindarewa: uma francesa no candomblé: a busca de uma outra verdade. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.
EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2016.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
GROSFOGUEL, Ramón (comp). El Giro Decolonial: reflexiones para uma diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre, 2007
GISÈLE OMINDAREWA. Direção: Clarice Ehlers Peixoto. Rio de Janeiro: FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, 2009.
LANDER, Edgardo et al. (Ed.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.
MAKOTA VALDINA – UM JEITO NEGRO DE SER E VIVER. Direção: Joyce Rodrigues. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2012.
MIGNOLO, Walter. Histórias Locais / Projeto Globais – Colonialidade, Saberes Subalternos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
MONTERO, Teresa. Chica Xavier: Mãe do Brasil. Rio de Janeiro: Eldorado, 2013.
NASCIMENTO, Elisa Larkin; GÁ, Luiz Carlos. Adinkra – Sabedoria em Símbolos Africanos.Rio de Janeiro: Pallas, 2009.
NASCIMENTO, Wanderson Flor do. “Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí: Potências Filosóficas de uma Reflexão”. Problemata, vol.10, n.2, 2019. Disponível em: <doi:http://dx.doi.org/10.7443/problemata.v10i2.49121>.
NASCIMENTO, Wanderson Flor do. “Da Necropolítica à Ikupolítica”. Revista Cult Dossiê Filosofia e Macumba, 2020.
NÓBREGA, Cida; ECHEVERRIA, Regina. Mãe Menininha do Gantois: uma biografia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. La invención de las mujeres. Una perspectiva africana sobre los discursos occidentales del género. Bogotá: La Fronteira, 2017.
PARÉS, Luis Nicolau. A formação do candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. Campinas: UNICAMP, 2018.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
QUIJANO, Anibal. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. Colección Sur Sur, CLACSO, pp.107-130, 2005.
QUIJANO, Anibal. “Colonialidad del Poder, Cultura y Conocimiento en América Latina”. Anuário Mariateguiano, Vol.9, n.9, 1997.
RIBEIRO, Katiuscia. “Mulheres Negras e a força matricomunitaria”. Revista Cult Dossiê Filosofia e Macumba, 2020.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.
SANTOS, João Baptista Tobiobá dos. “21 Cartas e um telegrama de mãe Aninha a suas filhas Agripina e Filhinha, 1935-1937”. Afro-Ásia, n.36, 2007.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo. Meu tempo é agora. São Paulo: Editora Oduduwa, 1993.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SIMAS, Luiz Antônio; RUFINO, Luiz. Flecha no tempo.Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.
SIMAS, Luiz Antônio; RUFINO, Luiz.. Fogo no Mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.
SIMAS, Luiz Antônio. Almanaque Brasilidades, Um Inventario do Brasil Popular. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2018.
SILVA, Anaxsuell F.; PROCÓPIO, C. Colonialidades do crer, do saber e do sentir: apontamentos para um debate epistemológico a partir do Sul e com o Sul. Revista de Ciências Sociais. Fortaleza, v. 50, n. 2, jul./out.,2019, p. 15–30
SILVA, Vagner Gonçalves da. Intolerância religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo: Edusp, 2007.